"Não importa o quanto você sabe...
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Lesão Medular




A novela "Viver a Vida" da Rede Globo vem provocando discussões interessantísismas acerca da lesão medular, onde a personagem Luciana (Aline Morais) que vive uma tetraplégica (na verdade, definimos o termo como tetraparética, isto é, lesão incompleta da medula sendo possível o retorno de alguns movimentos dos membros afetados). O fato é que a novela vem contribuindo muito para o conhecimento da população sobre as lesões medulares, possibilidades de tratamento e reabilitação, inserção do lesado medular à sociedade, dentre outros. No entanto, na intenção de tornar público todos os recursos que podem ser empregados na reabilitação destes pacientes, a novela esquece de enfatizar que a recuperação de um lesado medular é lenta, dando a impressão de que se todos dispuserem destes recursos, terão uma recuperação tão rápida quanto à da personagem. O problema é que a grande maioria da população brasileira não tem acesso a todos esses recursos, visto que o Sistema Único de Saúde ainda é muito falho no que diz respeito à excelência de atendimento; em muitos casos, a família é quem se responsabiliza pelos cuidados com o paciente por não possuir recursos financeiros necessários para se contratar um cuidador. E nos casos em que a família se resume cônjuge e filhos? As mesmas pessoas responsáveis pelo cuidado com o paciente, tem que trabalhar, cuidar da casa, cuidar dos filhos e, se sobrar tempo, cuidar de si próprios. Nesta situação, como pode o fisioterapeuta exigir que o paciente seja estimulado o dia inteiro? Como pode-se sugerir outras terapias, como a hidrocinesioterapia, a acupuntura, a terapia ocupacional, e várias outras opções de tratamento, se não há quem acompanhe este paciente o dia inteiro...? Então quer dizer que este paciente está condenado a viver em cima de uma cama para sempre? Como deve agir o fisioterapeuta diante de tão poucos recursos terapêuticos? Pacientes que têm acesso à tratamentos e equipamentos de reabilitação "ultra-modernos" serão mais favorecidos que aqueles que não dispõem dos mesmos recursos?
Estas são somente algumas indagações que venho fazendo ao longo da novela, diante da minha própria experiência como fisioterapeuta, diante das perguntas que pacientes me fazem.
Há que se levantar pontos positivos da novela, pois até o momento pouco se conhecia da rotina de uma pessoa que por algum motivo apresenta déficit de movimentos, seja por lesão medular, seja por outra causa. Estimula inclusive à família de proporcionar uma "vida normal" à pessoa nestas condições. Um tetraplégico não é uma pessoa condenada a viver em cima de uma cama, "vegetando", como se diz popularmente. Apesar de ter movimentos limitados, é uma pessoa completamente ativa no campo do raciocício, emocional, e com plenas condições de ser feliz nesta nova condição de vida.
Mas ressalto mais uma vez, que a recuperaçao de um lesado medular é lenta e depende principalmente do início precoce do tratamento fisioterapêutico. Quanto mais o tempo passar, sem os devidos estímulos, mais complicado se faz a reabilitação desta pessoa, visto que os sistemas do corpo humano vão criando "adaptações" à nova situação, algumas difíceis de serem revertidas. Quando a novela mostra que a cada dia a personagem conquista mais uma habilidade, é porque na verdade, o autor corre contra o pouco tempo de exibição da novela. Devemos considerar que a recuperação de uma pessoa que sofreu lesão medular leva anos, e que a paciência e a perseverança devem caminhar juntas sempre.
Pesquisando sobre acessibilidade, para orientação de um paciente, encontrei sites e blogs muito interessantes sobre "tetraplegia" e "lesão medular". Um deles, me chamou a atenção uma reportagem que aconselho que leiam.

Abraços a todos.
Veluciata Taveira.

2 comentários:

  1. Doutora,
    Vi seu post e fiquei cheia de interrogações por causa das perguntas que deixou. A senhora, como fisioterapeuta, o que faz com os pacientes do sus entao? Esses pacientes ficam prejudicados por causa da condição financeira?

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  2. Ao meu ver, estes pacientes ficam prejudicados pela demora na liberação do tratamento fisioterapêutico, mas quanto aos recursos, se o fisioterapeuta for bom ele pode dispôr de um colchão e uma bola, e reabilitar este paciente da mesma forma. Claro que equipamentos modernos facilitam o trabalho do fisioterapeuta, mas não podem ser vistos como primordiais ao tratamento.
    Esclareci sua dúvida? Caso ainda deseje mais explicações, entre em contato comigo por email.
    Abraços,
    Veluciata Taveira

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